Passa a infância e adolescência de um lado para outro dentro da geografia portuguesa e talvez essa errância não seja um mau ponto de partida para entender quem ele é. Ora, se o seu crescimento é feito a errar dentro de uma fronteira; a sua música desbrava o trilho da intimidade de quem se confessa, mas inevitavelmente traz a vulnerabilidade de quem viaja.
Em Fevereiro de 2012, toma coragem ao partilhar o seu primeiro EP “Isto não é coisa para vol- tar a acontecer”. São seis faixas poeticamente lideradas por uma solidão feroz… Em Novembro do mesmo ano, segue-se 1234, como que uma continuação do EP anterior, mas marcado por mais urgência tipo-jacto não fossem as quatro canções chamadas 1,2,3,4 respectivamente.
Passam dois anos e é-nos oferecido “Ups… fiz isto outra vez”, ficando completa uma trilogia. A melancolia oferece-se lânguida em canções que foram costuradas para nos atingirem e res- soarem perpetuamente. Eis Filipe Sambado, a virilidade marginal à qual ninguém nos habituou.
Em 2016 trouxe-nos Vida Salgada, a sua grande obra. Aqui, Sambado mais Sambado do que nunca, na voz, nas canções e nas letras viscerais. Este é um disco de baterias cavalgantes acompanhadas por percussões tristes. As guitarras entram para formar o meio campo, mas muitas vezes acabam abafadas por teclados rasgadinhos, que preenchem as alas.
Filipe Sambado aproveita este trabalho para nos levar às suas origens alentejanas e algarvias. Um disco nostálgico não tem de ser obrigatoriamente um disco de infância e é isso que Vida Salgada nos vem mostrar.